Sem vaga para os filhos, famílias criam escolas no Maranhão

Por Luís Pablo Maranhão
 

Portal IG

As escolas comunitárias em São Luís tornaram-se uma alternativa para um problema crônico na capital maranhense: a falta de vagas nas escolas públicas da educação infantil e ensino fundamental. Hoje, segundo o Conselho Tutelar da capital, pelo menos 850 crianças estão fora da escola por falta de vagas na rede pública.

O açougueiro Gladison Pinheiro, 37, tem uma filha de 5 anos, Glenda, matriculada em uma escola comunitária. “O ensino é bom e o preço também. Não tenho do que reclamar. Ao contrário, a escola foi uma solução para mim já que não encontrava vaga na rede pública. Se é para a minha filha ficar sem estudar, melhor ela ir para um colégio comunitário”, pontuou o açougueiro.

Existem hoje 98 escolas comunitárias em São Luís. Elas ensinam alunos de 3 a 14 anos. São pelo menos 17 mil crianças e adolescentes matriculados em instituições deste tipo. Dos 98 colégios comunitários, estima-se que apenas 20 delas recebam recursos públicos, a maior parte deles do governo federal. O número de escolas comunitárias, entretanto, pode ser maior. Isso porque algumas não são reconhecidas pelo Conselho Estadual de Educação (CEE) e ministram apenas aulas de reforço a alunos carentes.

Como funcionam:

As escolas comunitárias de São Luís não obtém lucro com o preço das mensalidades, o pagamento é facilitado aos pais mais pobres e o preço que o aluno paga por mês equivale a aproximadamente 10% do que é cobrado nas escolas particulares normais. As doações, a boa vontade de professores e a ajuda da comunidade são fatores que diminuem o custo das mensalidades

Uma das maiores escolas comunitárias de São Luís está localizada na Cidade Olímpica, bairro da periferia da capital. A Educando, com 500 alunos e 12 salas de aula, cobra mensalidades de R$ 50 e funciona há 12 anos. “Ela foi fundada justamente para minimizar nossa carência com vagas aqui na região”, afirma Eliane Costa Andrade, supervisora pedagógica da escola.

Professores voluntários:

Com 13 professores, Eliane Andrade afirma que cada um recebe uma ajuda de custo, não necessariamente um salário. Eles são pagos por hora aula, sem carteira assinada e, em alguns casos, existem docentes que nem conseguem receber um salário mínimo por mês. “Não vou dizer que eles trabalham só por amor, mas eles nos ajudam porque trabalham em outras escolas que pagam bem mais”, complementa.

A escola consegue se manter, além das mensalidades, com doações da comunidade, empresas e ONGs. Alguns pais, para não ficarem inadimplentes com a escola, prestam serviços ao colégio como pintura e reforma da estrutura do prédio. “A bancada da secretaria, por exemplo, foi um pai que construiu para pagar a mensalidade do filho”, afirma Eliane Andrade.

Perto dali, com uma estrutura menor, carteiras de madeira, salas apertadas e pouco iluminadas, existe o Colégio Comunitário Nossa Senhora da Conceição, também na Cidade Olímpica. Com 12 salas e 11 anos de existência, o colégio surgiu também da necessidade de atender as crianças da região. Hoje, tem aproximadamente 300 alunos e cobra mensalidades na casa dos R$ 30 ao mês.

Nesta escola comunitária, o número de crianças em cada sala de aula é reduzido. Apenas 25 para cada turma. Segundo a diretora-administrativa da escola, Natália Kelly de Araújo, como o colégio é pequeno, não visa o lucro e consegue se manter com a ajuda da comunidade, o compromisso é com a qualidade. “Existem pais que até já nos ofereceram cadeiras para aumentar o número de alunos por sala, mas nós dissemos que não era possível aumentar as turmas. Escola comunitária visa qualidade. Somos uma solução, não queremos perpetuar um problema já existente na escola pública”, revelou.

Autorização:

O Colégio Comunitário Nossa Senhora da Conceição viveu sete anos na clandestinidade. Nos sete primeiros anos de vida do colégio, as declarações e certificados eram emitidos pela Federação de Desenvolvimento das Organizações do Terceiro Setor no Maranhão (Fedecma). Na prática, os alunos estudavam no Colégio Comunitário, mas eram matriculados na Fedecma. Agora, o colégio já conseguiu autorização de funcionamento do governo do Estado e anda com as próprias pernas.

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