“Estou estarrecido com os números de homicídios na ilha”, diz Sarney
Em artigo publicado em sua página na internet, Sarney diz que ficou espantado com o aumento de homicídios em São Luís.
“Estou estarrecido com os números de homicídios na ilha de São Luís: de janeiro a novembro 642 pessoas foram mortas, projetando uma taxa próxima a 70 por cem mil habitantes na ilha que se chama do amor”, disse.
José Sarney falou ainda que o estado virou num exemplo de violência e banditismo.
“Na ilha de São Luís, repito, estamos com setenta por cem mil. Será que ninguém se revolta, denuncia, protesta, combate ou se inconforma? E o Maranhão — de povo pacato, ordeiro, pacífico —, transforma-se num exemplo de violência e banditismo”, questionou o ex-presidente.
Abaixo a íntegra do artigo de Sarney:
Violência e banditismo
Hannah Arendt dizia que o mundo moderno está embrutecido e que uma das características mais trágicas é a banalização da violência, hoje percebida e tolerada por todos como um simples elemento do cotidiano. Tive oportunidade de abordar várias vezes no Senado esse sentimento de que há uma regressão na humanidade. No passado matava-se pela disputa de comida, pela ocupação de território, na luta pela sobrevivência — um instrumento da evolução das espécies. A consciência do homem estava num estado primitivo, igualada à dos outros primatas. Centenas de milhares de anos depois, volta-se a matar, não mais para poder viver, mas como se fosse um gesto normal da vida. Ninguém se choca com os números de homicídios, com as chacinas, com a crueldade. Os crimes mais hediondos são tidos como normais.
Lembro-me de que, quando foi votado um projeto de lei considerando a corrupção crime hediondo, apresentei uma emenda para que se incluísse na mesma categoria o homicídio. O autor do projeto, o então senador Pedro Taques, reagiu dizendo que enfraquecia a mensagem da corrupção. Para mim matar também é corrupção, mas hoje se acha que a corrupção é mais danosa do que os crimes contra a vida. Minha emenda foi rejeitada.
Agora estou estarrecido com os números de homicídios na ilha de São Luís: de janeiro a novembro 642 pessoas foram mortas, projetando uma taxa próxima a 70 por cem mil habitantes na ilha que se chama do amor. Nos países do primeiro mundo ela está na casa de 2/100.000. Na Índia, 2º lugar em números absolutos de homicídios, a taxa é de 4/100.000; no Brasil é de 25/100.000; e na ilha de São Luís, repito, estamos com setenta por cem mil. Será que ninguém se revolta, denuncia, protesta, combate ou se inconforma? Volto a Hannah Arendt quando diz que a violência se tornou uma banalidade.
Acho que com esses números é o caso de declararmos estado de calamidade pública no combate à violência. E isso se reflete na vida da comunidade, gerando o medo, fazendo das casas prisões, com grades nas janelas e nas portas… e toda sorte de tentativa de defesa contra o crime. Andar nas ruas, nem pensar. Em cada família há uma história de violência a relatar.
Também é de estarrecer que apenas 3% dos casos de homicídio sejam apresentados à Justiça e que as condenações sejam tão leves — um homicídio pode significar, com a progressão da pena, 2 anos em regime fechado. Esta semana vimos um culpado de corrupção ser condenado a 19 anos de prisão, porque tinha dividido uma propina de 5 milhões com três pessoas — e uma mulher, que tinha assassinado o marido, esquartejado o corpo, colocado na geladeira, depois em malas e espalhado os pedaços em terrenos baldios, também ser condenada a 19 anos! Assim, o tirar a vida vale o mesmo que o roubar cinco milhões.
E o pior: as maiores taxas de homicídio estão entre os jovens de 17 a 24 anos, que matam e são mortos, com predominância de pretos e de pobres.
Uma sociedade assim não pode senão ser acusada de estar podre. E o Maranhão — de povo pacato, ordeiro, pacífico —, transforma-se num exemplo de violência e banditismo.
11/12/2016 às 02:24
Grande soma de verbas desviadas ao longo de décadas, a falta de bom e justo empenho pra manter a ordem nesta ilha e muito mais ítens da corrupta gestão, trouxeram essa violência. Pois o desejo insaciável de acumular dinheiro além de satisfação para atender desejos egoístas, constituem a raíz de todos males para a sociedade.
11/12/2016 às 10:19
Realmente fico surpreso com a ausência de memória do Ex-Presidente José Sarney. Ele não lembra que no governo de Roseana os indíces eram muito mais assustadores. Basta olhar o passado. Tão simples assim.
Olha lá. No governo da filha dele ocorreu praticamente o dobro de mortes, e como ele não escreveu um artigo dizendo-se estarrecido? Nesse aspecto, as intenções do imortal da ABL não são coerentes, e desvirtua-se da ética. Conferir:
“Mais de 1200 mortes registradas em São Luís em 2014
O Centro de Apoio Operacional do Controle Externo da Atividade Policial (CAOp-Ceap) divulgou no início da tarde desta segunda-feira (12), relatório sobre a violência nos municípios de São Luís, Raposa, Paço do Lumiar e São José de Ribamar, referente ao ano de 2014. Os dados englobam os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) e o déficit no quadro das policiais Civil e Militar.
A aferição das mortes por CVLI segue a metodologia indicada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), contabilizando óbitos por armas de fogo, armas brancas, instrumentos de ação contundente ou cortante, esgorjamento, estrangulamento, espancamento e agressão física. Em 2014, foram registradas 1.227 mortes violentas com essas características. Os números superam em 24,7% a soma dos 984 registros de 2013.”
http://www.ma10.com.br/jeisael/mais-de-1200-mortes-registradas-em-sao-luis-em-2014/
11/12/2016 às 11:12
Eu pensei que Sarney fosse ficar estarrecido também com a corrupção que está afundando o País.
11/12/2016 às 11:32
Fala de 2013 e 2014 época que Roseana dizia que o problema não era dela. A taxa é bem maior e mais, os dados eram forjados para parecer menor, contudo a mídia policial informava todos os dias, não tinha como esconder. Tá é melhorando, aqui no bairro estamos colocando a cadeira na porta de casa, graças a Deus que colocou um excelente governador que está arrumando a bagunça de 50 anos.