Do Imparcial
Deputado Cesar Pires
Esta semana, ele deixou a vice-liderança do principal bloco de governo da Assembleia Legislativa, mas vem enfrentando uma série de desavenças com a bancada federal do Maranhão devido aos problemas do aeroporto Marechal Cunha Machado.Apesar destas atitudes, César Pires (DEM) foi secretário de Educação do governo Roseana Sarney entre 2009 e 2010 e deixou o cargo para concorrer a deputado estadual e foi um dos parlamentares que permaneceu na aliado ao grupo Sarney quando este ficou fora do governo.
Aos 54 anos, o deputado explica os motivos de atitudes encaradas como rebeldia em relação ao governo e fala a O Imparcial da crise política vivida com a falta de renovação política no Maranhão e explica os motivos de não seguir o caminho de outros companheiros de legenda e aportar no PSD.
Frases
“Quero ir para um partido em que eu possa ajudar a construí-lo. O modelo do PSD, salvo melhor juízo, é o mesmo do DEM. Somos apenas comunicados das decisões sem que façamos parte dela”
“Não aprendi na história que tenha havido em Brasília um quadro político do Maranhão tão consolidado e o próprio presidente do Congresso, além de 18 deputados e três senadores e, ainda assim, haver um decréscimo na categoria de nosso aeroporto”
“Adotarei a mesma postura: sou aliado com grupo ou sem grupo. Não sou companheiro das conveniências. Quando saímos do poder, ali mostrei o que é ser aliado e leal. Hoje é cômodo fazer parte do grupo por ele estar no poder”
O Imparcial- Qual o exato motivo da decisão de sair da vice-liderança do Bloco Parlamentar pelo Maranhão?
Por ter entendido não haver harmonia nem socialização das decisões entre líderes dos blocos com líder do governo, deixando no meio desse desencontro os demais deputados, sem saber o que fazer. O líder sai e não me avisa do pacto que foi feito. Então, de que serve o vice-líder? Coloca você num jogo de interesses ou de acordos que sequer tem conhecimento.
Houve alguma ligação com os desentendimentos com a bancada do governo na Câmara Federal?
Na verdade, não foi uma desavença com pessoas ou deputados. O apelo que fiz é que era difícil compreender como se abriu mão de conquistas históricas, como a categorização internacional do aeroporto, sem que houvesse publicização das lutas veladas dos nossos parlamentares que, segundo eles, vinha acontecendo. Por trás do aeroporto fracassado, tem perda de emprego e renda patrocinada pelo turismo, sobretudo nos meses de altas demandas e o comprometimento anunciado em janeiro e fevereiro para 2012. Não aprendi na história que tenha havido em Brasília um quadro político do Maranhão tão consolidado e o próprio presidente do Congresso, além de 18 deputados e três senadores e, ainda assim, haver um decréscimo na categoria de nosso aeroporto com prejuízos num dos ramos que mais cresce no mundo, que é o turismo.
Como ficará sua postura com a saída da vice-liderança do principal bloco governista?
Vou continuar defendendo o governo da mesma forma que defendia como vice-líder e fazendo a minha própria liderança. Trabalhar com os mesmos conceitos, convicções e ideias e não preciso ocupar esse falso posto de liderança para desenvolver a minha missão nesta Casa.
E isso não gera um desconforto dentro da base?
O parlamento brasileiro é tão fragilizado e quase nada harmônico que se torna submisso com bloco, sem bloco, com liderança ou sem liderança. Isso pouco interessa para um resultado político, aumentando ainda mais o fosso entre os palanques eleitorais e as nossas ações em plenário. Se somos oposição, discordamos de tudo e o povo é a nossa motivação. Quando no poder, colocamos outros óculos e enxergamos os mesmos valores que outrora defendemos de forma diferente do que víamos quando éramos oposição. Ou seja, na oposição, o cérebro reside na cabeça. Na situação, tem localização abdominal.
Por que não foi para o PSD?
Quero ir para um partido em que eu possa ajudar a construí-lo. O modelo do PSD, salvo melhor juízo, é o mesmo do DEM. Somos apenas comunicados das decisões sem que façamos parte dela. Quero construir junto com a sigla. As normas eleitorais não permitem a migração de livre arbítrio, por isso prefiro ficar no DEM por enquanto. Vou esperar a possibilidade de junção do PSDB com o DEM, procurar um partido em que eu não seja apenas um apêndice, mas que a equipe projete suas decisões e ideais com a minha participação.
Como ficará sua postura em relação ao governo depois da saída da vice-liderança?
Adotarei a mesma postura: sou aliado com grupo ou sem grupo. Não sou companheiro das conveniências. Quando saímos do poder, ali mostrei o que é ser aliado e leal. Hoje é cômodo fazer parte do grupo por ele estar no poder.
Como o senhor avalia a falta de renovação política no estado?
Muitos de nós deputados nos condenamos a ser simplesmente isso. Dentro do partido teremos que apoiar alguém que pertença a um status quo maior. Por mais que a gente apresente trabalhos, ações que venham a alcançar os desejos do povo, não estamos no projeto político maior. A saída nossa para um partido menor é tentar oferecer nomes para uma disputa, criando uma terceira via competente, sólida e capaz poderemos apresentar alternativas para uma renovação da política maranhense sem que haja escolhas antecipadas em que morreremos e envelheceremos vendo um sonho interrompido de dar um salto além.
E como fica a relação dentro do DEM? Pretende ir para um partido menor?
Não pretendo sair hoje, pois o PSD traz o mesmo perfil, a mesma genética do DEM. Isso, no meu entendimento, faz com que ele nasça com os mesmos conceitos vencidos e impositivos ao seus membros. Vou aguardar para que eu possa ter legalmente a liberdade de ir para um partido e ter um destino sadio, com a certeza de um novo gene político.
Como o senhor avalia o trabalho dos líderes de governo na Casa?
É preciso um entrosamento maior, uma imposição de respeito maior, porque os liderados gostam de líderes que se impõem pela razão, pelo conhecimento e pela fundamentação com argumentos que não digam apenas “amém”. O que precisamos é que os líderes nos demovam de qualquer outro conceito e demonstrem que a motivação de apoio àquele voto é superior ao pensamento que até aquele momento prevalece internamente dentro do deputado.
Algumas vezes, os deputados de governo tomam decisões que desagradam o Palácio dos Leões. Por que isso acontece?
Não creio que seja divergência com o governo. Há sempre respeito nas decisões. O problema é que o político é olhado, examinado e avaliado sistematicamente pela sociedade. Na medida em que ele vai pedir o voto, nunca diz em palanque que vai prestar um serviço cego ao governo, mas um serviço à liberdade e ao crescimento do estado. Às vezes, a opção do governo em proteger o estado não bate com os desejos da sociedade. Quando o político opta pela sociedade, é visto não como apoiador dos critérios que o conduziram a ser deputado, estar do lado daquele que o colocou. Mas é encarado como um rebelde em relação ao governo – o que, na minha opinião, é uma visão míope, que diminui o debate e empobrece o valor do parlamento.