Estudantes e profissionais de medicina contestam projeto do governo Dilma
Por João Brainer Clares de Andrade (Acadêmico de Medicina da Universidade Estadual do Ceará)
O Governo Federal já noticia que prevê afrouxar a revalidação de diplomas de médicos formados fora do país. A justificativa é meramente matemática: prendem-se à relação de médicos por habitantes no Brasil. Esquecem-se de que já formamos mais de 16 mil médicos/ano e que temos o segundo maior número de escolas de Medicina, superando países como Rússia, Estados Unidos e China.
A grande questão é que há um processo teoricamente firme para a abertura e fiscalização das escolas médicas brasileiras: há duas avaliações in loco para credenciamento e reconhecimento da escola; em seguida há a avaliação trienal pelo ENADE, que degola vagas ou permite expansões de acordo com o desempenho dos estudantes, além das diretrizes curriculares que exigem quesitos mínimos de currículo e campos de prática. Fora do país, a questão é diferente: principalmente na América Latina, a carga-horária dos cursos de Medicina chega a ter metade da praticada no Brasil, os docentes têm baixa titulação e praticamente não há atividades práticas hospitalares. E outro ponto: sequer há vestibular.
Que o interior brasileiro precisa de médicos é fato incontestável. No entanto, lotar médicos a qualquer custo é um erro que acoberta outros: condições indignas de trabalho e total falta de estrutura. Assim, poucos são os que querem se arriscar, e pôr o paciente em risco, onde não se pode praticar uma boa Medicina.
A qualidade dos médicos importados é de conhecimento do Governo Federal. No exame nacional de revalidações, o REVALIDA, em 2012, menos de 10% foram aprovados. E vale considerar que o processo já foi “facilitado” sob pressão do Governo. Agora, mesmo tendo ciência da qualidade, deseja-se empurrar esses profissionais à população brasileira.
A pergunta que se faz é simples: “A Presidenta abriria mão de suas consultas em dos mais bem equipados hospitais do país para se consultar com os médicos que deseja trazer ao Brasil?”. Se a Presidenta fizer isso de fato, não apenas por marketing, eu retiro o que digo… E me mudo para Cuba!
06/05/2013 às 10:17
Esses médicos brasileiros são todos mauricinhos e patricinhas, se formam e não querem trabalhar no interior dos estados, somente nas capitais.
Está certíssima a presidente Dilma, traga mesmo os médicos de outros países, desde que competentes. E outra, tenho absoluta certeza que se o governo federal fosse aplicar o exame nacional de revalidações, o REVALIDA, com os médicos brasileiros recém formados, 99% não seria aprovado!!!
06/05/2013 às 13:47
Caro José Rodrigues, sou médica, trabalho no interior, e tenho o seguinte para te dizer:
trabalhar em um local sem estrutura nenhuma é no mínimo frustrante. No mínimo! E ainda tem a questão de que, sem a estrutura suficiente, nós médicos ficamos bem mais sujeitos a perdermos nosso registro profissional pois a probabilidade acontecer alguma merda com nossos pacientes é muito alta(eninguém põe a culpa na estrutura do sistema, e sim no médico!). E como um último ponto, coloco que, um médico que trabalha em um interior distante não tem a possibilidade de se reciclar como profissional, visto que o sistema de teleaula das universidades para os municípios é minguado ou inexistente.
Agora imagine o seguinte: se eu estou em um hospital e um indivíduo chega para mim com suspeita de infarto, como eu vou confirmar, se muitas vezes eu não tenho um eletrocardiograma disponível e o hospital não disponibliza exames de enzimas musculares, que são fundamentais para o diagnóstico? Como eu vou dar suporte para um paciente desses destro do hospital se muitas vezes me falta o oxigênio comprimido? E se eu confirmar o diagnóstico, não tenho nenhuma forma de desobstruir a artéria do indivídio porque não há serviço de hemodinâmica próximo, e os remédios que são usados para isso não existem em nenhum desses hospitais porque são caros. Normalmente eu encaminharia o paciente para um centro e referência hospitalar na capital. Agora imagina que o interior é a 450km da capital. Dá ou não dá tempo de eu salvar a área do coração do meu paciente que foi afetada? Não. Dá tempo pra o meu paciente morrer? possivelmente. Meu paciente pode morrer ou ficar com sequelas de insuficiencia cardíaca pro resto da vida. Poderia ter sido evitado se ele estivesse já na capital.
Isso é só um exemplo. Frustrante.
Pena que boa parte dos brasileiros não sabe disso e julga sem nem ao menos conhecer.
Abçs
06/05/2013 às 21:31
Quem conhece a realidade da saúde sabe que médico ta muito dificil, e eles sabem disso e exigem salarios altissimos, o governo como não é besta ta fazendo sua parte, e agora vai dá as cartas, com muito médico no mercado com certeza o salario vai baixar e eles vão perder empregos, dinheiro e status.
13/05/2013 às 11:13
Provável que o autor desta publicação seja um dos que foi vergonhosamente reprovado na prova que aplicado à estudantes formados no brasil quais ou tais 90% de reprovados que diria?