Grupos de bumba boi investem milhares de reais a cada São João

Por Luís Pablo Cidade
 

Glaucione Pedrozo / Imparcial

Paetês, brilho e penas. Um espetáculo de cores e danças, mas de muito gasto financeiro também. Hoje em dia, as brincadeiras de bumba-meu-boi são donas de gordos orçamentos, que vão de gastos com canutilhos até o combustível do ônibus. Por temporada, os donos de bumba-meu-boi chegam a desembolsar cerca de R$ 100 mil para colocar a brincadeira na rua.

O fundador do Boi de Morros, José Lobato, revelou que só de material chega a gastar cerca de R$ 60 mil. “Nossa equipe conta com cerca de 160 brincantes. Só de material de indumentária para todos, nós gastamos na faixa de R$ 60 mil, isso sem contar a mão de obra”, disse Lobato.

O dono do Boi de Morros afirmou que é preciso também contratar mão-de-obra especializada para a confecção das fantasias. “Alguns brincantes se dispõem também a ajudar. Aqueles que não confeccionam suas próprias roupas, geralmente pagam para outras pessoas fazerem. Mas, além disso, nós sempre contratamos artesãos especializados para confeccionar outras peças”, afirmou. Lobato relatou que outro gasto que não deve deixar de ser contabilizado é a confecção da carcaça do boi. “Em média nós gastamos cerca de R$4 mil com a carcaça do boi, incluindo o couro e a armação”, revelou.

Lobato contou que todos os brincantes são voluntários e que por isso não recebem remuneração pelas apresentações. “Nossos participantes dançam voluntariamente, mas nós damos todo o suporte necessário, como alimentação e transporte”, disse.

Segundo o proprietário da brincadeira, todos os recursos utilizados são próprios, conseguidos através das apresentações. “Todos os nossos recursos são próprios. Os cachês que nós recebemos são utilizados para cobrir todos esses gastos. Nós não lucramos em nada”, afirmou.

Lobato também disse que o preço dos cachês varia, indo desde apresentações gratuitas até R$10 mil. “O preço do nosso cachê varia muito. Tem apresentações que nem cobramos, como por exemplo quando são para instituições ou comunidades que somos ligados, que temos obrigações de fé. Mas também tem casos que chegamos a cobrar R$ 10 mil. Tudo depende muito”, revelou.

Materiais comprados fora do estado

Em outras brincadeiras a dinâmica financeira é parecida. O Boi de Nina Rodrigues, por exemplo, também tem um alto custo em confecção de fantasias. A dona da brincadeira, Concita Braga, explicou que, muitas vezes, o preço dos materiais também contribui muito para o encarecimento das indumentárias dos brincantes.

Dona do Nina Rodrigues, Concita Braga e a índia Iris Carvalho

Dona do Nina Rodrigues, Concita Braga e a índia Iris Carvalho

Ela afirma que caso os materiais sejam comprados na capital, eles podem chegar a ser até quatro vezes mais caros do que se fossem comprados em outros estados. “O preço dos materiais varia muito, caso sejam comprados aqui ou comprados fora do estado. Aqui em São Luís o custo do material é altíssimo. O quilo de penas, por exemplo, se comprado em São Paulo custa cerca de R$ 400 e, aqui, penas do mesmo tipo custam R$ 2 mil. O mesmo acontece também com os canutilhos, que em São Paulo custam no máximo R$ 40 e aqui são R$120”, afirmou.

Concita Braga revelou que só com materiais para as vestimentas investiu cerca de R$70 mil. “Esse ano não tive condições de viajar para comprar o material fora, então tive que adquirir tudo aqui em São Luís e isso encareceu bastante o orçamento”, disse.

Assim como o proprietário da brincadeira de Morros, a dona do grupo de Nina Rodrigues paga todos os custos com recursos próprios. “Nós não recebemos nenhuma ajuda do governo ou prefeitura. Todo o pagamento que fazemos é fruto do cachê que recebemos nas nossas apresentações e de ajudas de pequenos empresários e amigos. Nenhum empresário grande tem interesse de financiar a brincadeira”, afirmou Concita.

Índia do Boi Nina Rodrigues, Iris Carvalho

Índia do Boi Nina Rodrigues, Iris Carvalho

Em relação à confecção das indumentárias, Concita disse que os próprios brincantes confeccionam suas vestimentas e são remunerados para isso. “Nós oferecemos oficinas de bordado para os nossos brincantes, para que a partir daí eles possam confeccionar as próprias indumentárias. Mas eles são pagos para isso, pois eles já são voluntários como dançarinos e não é justo que trabalhem sem receber”, afirmou a dona da brincadeira.

De acordo com ela, a única peça que é confeccionada fora é a carcaça do boi, que chega a custar R$7,5 mil, incluindo bordado feito na cidade de Axixá, interior do Maranhão, e carcaça.

Concita Braga disse que o preço do cachê da brincadeira fica em torno dos R$3,5 mil, dependendo do local de apresentação. Por dia, podem fazer até três apresentações. “Nós fazemos cerca de três apresentações por dia, mas temos muitos gastos também. Temos dois ônibus que custam R$400 cada (aluguel diário); uma orquestra com 22 integrantes e cachê de R$ 220; despesas do CD; alimentação dos nossos brincantes. São muitos gastos. Às vezes nós saímos de uma temporada para outra, ainda com pequenas dívidas”, finalizou.

Um comentário em “Grupos de bumba boi investem milhares de reais a cada São João”

  1. FIGUEIREDO DO PARANÃ

    PABLO O QUE EU ACHO INCRIVEL, COMO É QUE ESTES GRUPOS SE VIRAM PARA COMPRAR OS MATERIAS DAS INDUMENTARIAS, HAJA VISTO QUE A SEC-MA, SÓ REPASSA AS VERBAS DAS APRESENTAÇÕES DE CADA BRINCADEIRA EM CIMA DA HORA, POIS ELES SÃO OS VERDADEIROS MAGICOS DA CULTURA MARANHENSE. UMA IDEIA PARA A NOVA SECREATRIA DE CULTURA, DRª OLGA SIMÃO. CONSTITUA UMA COPERATIVA DO FOLCLORE MARANHENSE E COMPRE OS MATERIAS EM SÃO PAULO PARA PASSAR MAIS BARATOS AS BRINCADEIRAS. CONSTRUA UM BARRACÃO DA CULTURA PARA ENSAIOS DAS BRINCADEIRAS, PAGUE PELO MENOS TRES MESES ANTES DO FESTEJO JUNINO AS BRINCADEIRAS, VALORIZE AS BRINCAEIRA DE IGUAL PRA IGUAL. FÇA PROJETOS PELA LEI DE INCETIVO A CULTURA PARA A AQUISIÇÃO DE ONIBUS PARA AS BRINCADEIRAS.

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