Reféns da insegurança…

Por Luís Pablo Maranhão
 

De O Estado

Profissionais de uma empresa de segurança privada simulam situaçao de salvaguarda de cliente durante um eventual caso de assalto ou de sequestro

Profissionais de uma empresa de segurança privada simulam situaçao de salvaguarda de cliente durante um eventual caso de assalto ou de sequestro

O muro é alto. As cercas são eletrificadas. Câmeras vigiam o tempo todo a área e as sirenes denunciam a presença de intrusos. O que parece um presídio de segurança máxima, na verdade é apenas mais uma casa em um bairro de classe média alta em São Luís, onde seus moradores, querendo se ver livres da violência, se trancam e só põem os pés na rua quando é estritamente necessário. Mesmo assim, muitas vezes a ação de bandidos consegue burlar o aparato caro e trabalhoso instalado nas residências.

A professora, mestra em Literatura e membro da Academia Maranhense de Letras, Ceres Costa Fernandes, e seu marido foram alvo recente da ação de marginais, que se aproveitaram do momento em que alguém entrava na casa para invadir o local e fazer a família refém.

Após muita conversa e alguns feridos, os bandidos saíram do local levando pertences das vítimas, que, conforme a professora, alguns até podem ser recuperados, mas o medo ficou e até hoje, talvez para sempre, assombra a vida da família, tanto que a acadêmica relatou a dor e o pânico que sentiu e vem sentindo desde então.

Insegurança“De nada adiantaram as precauções. A volta ao quarteirão, os telefonemas. Os bandidos estudaram os horários, a rotina dos prisioneiros que se atrevem a sair. Sabem tudo a nosso respeito. São quase íntimos. Só falta a visita”, relatou a professora.

O que lhe resta agora? A acadêmica pensa em se mudar. Ir para um apartamento, no alto, com vigia 24 horas e todo o aparato de segurança. Ela afirma que a transferência não vai alterar o seu medo, mas vai amenizar. Mas para isso tem primeiro de vender a casa, construída ininterruptamente por mais de duas décadas com tijolos, memórias e saudades.

“Eu também não quero ir para um apartamento pequeno. Então, tenho de me desfazer da minha casa, que construí do meu jeito e para mim, durante todo o tempo em que vivo por lá”, ressaltou.

Segurança privada – Fernando é um segurança pessoal privado. Há 14 anos trabalhando na profissão, ele afirma que, quando está no serviço, sua vida é a vida da pessoa que tem de proteger e que a atenção é o que existe de mais importante em sua carreira, mais até mesmo do que sua perícia em manejar diferentes tipos de armas, seu treinamento em defesa pessoal e direção especializada em fugas e situações de extremo perigo.

“Nós somos os olhos do nosso segurado. Temos de zelar pela vida dele e pela nossa também, então, não podemos relaxar nunca. Somos os últimos a entrar no carro e os primeiros a sair. Quando estamos trabalhando, temos de nos entregar completamente à situação, pois a vida daquela pessoa está em nossas mãos”, diz.

Vigilantes fazem treinamento de defesa pessoal

Vigilantes fazem treinamento de defesa pessoal

A segurança pessoal privada é um ramo dentro das empresas de segurança que trata exclusivamente de garantir a vida e a total seguridade de uma pessoa, geralmente empresários, políticos, artistas, que têm condições de pagar pelo serviço, já que, conforme explica Ronaldo Menezes Santos, gerente de segurança de uma empresa especializada na área, os valores, dependendo do contrato, são altos.

Por isso mesmo a empresa em que trabalha tem apenas três clientes que usufruem do serviço continuamente. Logicamente, todos são mantidos no mais alto sigilo, já que o fator surpresa é fundamental para a garantia do serviço. “O segurança pessoal privado não usa fardamento, não mostra a arma. Ele é como se fosse um amigo do cliente”, explica Ronaldo Santos.

Crescimento – O mercado de segurança pessoal privada tem crescido no Brasil nos últimos anos, mas em São Luís e no Maranhão, de forma geral, os números ainda são irrisórios. Para se ter uma ideia, nos cursos de formação de vigilantes, quando ocorrem os treinamentos, as turmas de segurança pessoal formam no máximo 15 indivíduos por mês, enquanto o de formação de vigilantes tem várias turmas com lotação máxima de até 45 alunos.

Tudo isso, segundo explica Marco Túlio, gerente de um curso especializado na capital, é por causa da demanda. Existe maior procura por profissionais que atuem como vigilantes de empresas, bancos, etc., do que para quem vai proteger a vida de pessoas, além disso, existe a questão do risco, já que, para ser segurança pessoal, ele tem de garantir, de qualquer forma, a vida do cliente. “Então as pessoas quando vêm procurar o curso é porque ou já fizeram todos os outros e querem se especializar mais ou porque a empresa pediu”, frisa.

Blindados – Blindar o carro é outro serviço caro e também procurado por quem quer se sentir seguro fora de casa. A Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), que reúne as principais empresas do ramo no país, afirma que houve um aumento de 15% nas blindagens de veículos em 2013, em comparação com o ano anterior, e o Brasil
está no topo de países com veículos protegidos, ao lado de Estados Unidos, México e Colômbia.

No Maranhão são bem poucos os veículos que usufruem da tecnologia e nem mesmo existe empresa, legalizada, que realize o serviço. Apenas representantes de empresas, do Sul ou Sudeste, que fazem o contato com os interessados e enviam os veículos para outros estados, isso quando ele já não sai blindado de fábrica.

Geralmente o processo de equipagem do veículo dura até 45 dias e no mínimo 20. Todo o processo é regulamentado pelo Exército e segue regras rígidas criadas pelo órgão e pela Associação Brasileira de Normas Técnicas. O tipo mais comum de blindagem é a III-A, que defende o veículo de todas as armas de cano curto e submetralhadoras. Esse tipo de serviço custa até R$ 100 mil, dependendo do modelo do carro, além disso, ao fim do processo, o automóvel deve ganhar até 200 kg de peso extra.

Armas – O artigo 6º da Lei 10.826/03, chamado de estatuto do desarmamento, proíbe o porte de arma de fogo em todo o território nacional, exceto em casos excepcionais, em que o interessado demonstre a necessidade de possuir o utensílio, seja por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça a sua integridade física.

pessoa tem de apresentar capacidade técnica, psicológica e idoneidade, atestada por meio de certidões
negativas de antecedentes criminais.

O porte, na legislação brasileira, tem validade de cinco anos e autoriza o cidadão a portar, transportar e trazer
consigo uma arma de fogo, de forma discreta, fora das dependências de sua residência ou local de trabalho.

Um comentário em “Reféns da insegurança…”

  1. Petronio

    Alguém já foi ameaçado e conseguiu obter o porte de arma para se defender em tempo hábil?

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