Edson Vidigal escreve sobre a dor de Flávio Dino

Por Luís Pablo Brasil
 

Por Edson VidigalDores de Amores

Edson Vidigal

Edson Vidigal

A dor de quando morre um filho é uma dor que não morre. É uma dor que nunca acaba.

Eu vi o Flávio, irremediavelmente inconsolável, chorando a verdade da sua dor, diante do filho morto, um garoto apenas recém-chegado à adolescência e ouvi o clérigo sóbrio em sua fé, espargindo fé, sobrepairando palavras com dizeres de conforto.

Dissertou otimista sobre a imortalidade da alma. O que se pranteava ali, disse, era apenas o corpo no qual até a véspera vivera o menino. Sua alma certamente estava até ali também pranteando o corpo.

Consola, sim. Mas não retira a dor.

A vida sempre, em algum momento, já nos levou ou ainda nos levará a essa estação de mistério. Por mais explicação que nos façam os filósofos ou as religiões, e ultimamente a ciência, tudo não será o suficiente para se entender tudo.

Falo por mim, é claro. Não vale querer entender tudo. Então, só nos restam a fé e sua fonte de forças enormes e inesgotáveis que nos levam inclusive à remoção das montanhas.

A fé em si, por si, é um mistério e sendo um mistério, é logico, não tem explicação. Mas será sempre um valor inestimável e renovável a nos inspirar e a nos impelir nas sequencias desse difícil exercício de viver.

La vie est injuste habitués à l’homme! – A vida é injusta, homem, acostume-se com ela. Dizem os franceses.

Com outros sons, em várias línguas, diz-se a mesma coisa. Sempre para lembrar o quão de injustiças permeiam as entregas e renúncias no exercício de se seguir corretamente a viagem da vida pela estrada e, ainda por cima, sobreviver.

A morte, ao contrário, nos iguala. Impõe sempre a sua mesma e contundente lição de humildade. Inevitável quanto a luz do sol no dia que amanhece, a morte nunca falha quando entende chegada a data, a hora, a circunstancia, deixando a cada um em atestado a sua desculpa.

Com certeza, a vida não é justa quando um garoto como esse do Flávio começa a despertar em seus sonhos, a se encantar com as alegrias da adolescência, a conhecer a cartilha da vida ensinando-lhe o que é certo e bom e o que é ruim porque é errado.

A vida ao invés de expelir a alergia que colou no menino ainda na escola, não! Levou-o passivamente ao hospital onde a dona morte, mais covardemente ainda, o paralisou definitivamente.

Penso que vem daí a logica do brocardo francês – La vie est injuste habitués à l’homme!

Quanto a nós, o que nos cabe é trabalhar seriamente para que as injustiças da vida se reduzam. Podemos contribuir para a redução das desigualdades, sim. Podemos até, pelos avanços da ciência, retardarmos as incursões inevitáveis de dona morte.

Quando meu pai morreu, eu estava longe, não deu tempo de vê-lo. Quando cheguei já havia sido sepultado. Doeu.

Quando minha mãe morreu, cheguei a tempo no velório. Doeu muito, muito mesmo.

Quando morreu um filho, pude estar com ele assim, que nem o Flávio, até o ultimo momento. Dói ainda hoje. É uma dor que nunca acaba.

3 comentários em “Edson Vidigal escreve sobre a dor de Flávio Dino”

  1. Queiroz

    Primoroso texto…

  2. Ricardo Santos

    Lindo e comovente. Não existe felicidade maior do que o nascimento de um filho, da mesma forma que não existe dor maior do que perdê-lo.

  3. Francisco Peres Soares

    Caro Pablo

    Fazia tempo que não lia um texto como esse. De tão pereito me causou uma profunda e duradoura sensação de perda , mesmo ainda não tendo perdido nenhum filho. É um texto sincero, onde as belas palavras do autor não soam como cacoetes lliterarios , mas somente como palavras afiadas que tocam cirurgicamente a alma de todos os progenitores.

    Meus parabens ao autor e minhas sinceras condolencias ao pai Flavio Dino !

    Francisco de Assis Peres Soares

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