Candidata no MA, travesti vive do Bolsa Família e diz lutar por minorias
Em meio a uma disputa que envolve políticos tradicionais do Maranhão e suas campanhas milionárias, a candidata a deputada estadual Pâmela Maranhão (PT-MA) tenta ser o contraste em uma região marcada pela pobreza.
Moradora de São Domingos (a 380 km de São Luís), Jackson Lima da Silva, 26, ou Pâmela Maranhão, como é conhecida, diz que é a primeira candidata travesti no Maranhão. Promete lutar pelas minorias e pela emancipação da região sul do Estado.
Sem bens e sem emprego, ela contou que vive apenas do Bolsa Família e se autodeclara a “candidata mais pobre do Brasil”. “Eu conto também com a ajuda da minha mãe, porque aqui não temos políticas públicas para os travestis. Não há interesse na causa”, disse. Ao TSE, ela declarou um teto de gastos de campanha de R$ 2 milhões, mas alega ter sido “só para preencher” o formulário, já que não pretende gastar nada. Na prestação parcial de contas entregue ao TSE na semana passada, Pâmela declarou não ter feito recebido nenhuma doação de campanha.
Na última terça-feira, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Maranhão deu destaque, em seu site, à legalidade da candidatura e ao direito de usar o nome de Pâmela Maranhão na urna.“O direito como um todo tem evoluído de acordo com as tendências sociais e a Justiça Eleitoral não pode fechar os olhos a tais circunstâncias nem ignorar o fato de que é permitido a todo cidadão, de qualquer nível social ou orientação sexual, a garantia de exercer seus direitos políticos quer como eleitor quer como candidato”, afirmou o desembargador Eulálio Figueiredo, que deferiu o pedido de candidatura da petista.
Apesar da divulgação, o texto da decisão que acatou a candidatura não agradou a candidata. “Na verdade, o TRE foi retrógrado. Fui candidata como Pâmela Maranhão em 2012, e eles não disseram nada, não houve essa fala. Eles falaram como se alguém fosse ganhar usando um nome, que não tem nenhum problema”, disse.
Luta por minorias
Jackson Lima começou a vida de ativista em 2010, quando passou a adotar o nome de Pâmela Maranhão. “Foi ali que sai do armário”, brincou.
Em 2012, lançou-se candidata a vereadora em São Domingos do Maranhão, mas teve apenas 70 votos. “Fiquei na 29ª colocação, só eram 13 vagas”.
Para a campanha 2014, a candidata diz contar com apoio do partido e de entidades de direitos humanos na disputa por uma das 46 vagas da Assembleia Legislativa. “Eles me ajudam com panfletos, apoio moral. Desde 2012 o PT vem me dando apoio. Foi o primeiro partido a apoiar a causa LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros]”, explicou.
Pâmela é presidente de uma ONG (Organização Não-Governamental) de defesa das minorias em São Domingos. A promessa é, caso eleita, lutar pelos maranhenses desassistidos. “Sou uma ativista de direitos humanos contra o machismo e a opressão às mulheres. Não é porque sou travesti que defendo só os homossexuais. Entrei para defender as minorias em geral, porque nossos atuais deputados não o fazem”, disse.
Outro ponto que promete ser uma bandeira de luta é emancipação do Maranhão do Sul – proposta que tramita no Congresso. “É inadmissível uma capital tão longe da população. Por isso defendo um novo Estado, que terá uma capital centralizada. Será bom para todos”, afirmou.