G1MA, com informações de O Estado
Juliane Santos com a mãe, Filomena Santos, em Hospital de Brasília
Juliane Santos, mãe de Ana Clara Sousa Santos, de 6 anos, foi entrevistada pelo jornal O Estado, e afirmou que a perda da própria filha em virtude do ataque criminoso em São Luís, no dia 3 do mês passado, “é uma ferida que jamais irá cicatrizar”. Apesar do apoio da família, Juliane Santos, ainda se diz “muito abalada” pela morte da filha e afirmou também que, apesar da perda, perdoa os acusados de planejar os atos criminosos na capital maranhense e que queimaram, dentre outros, o ônibus da linha Vila Sarney Filho, no qual ela estava.
Juliane Santos também informou que permanecerá em Brasília, por tempo indeterminado, dando continuidade ao tratamento a que está sendo submetida para a recuperação de cerca de 40% da pela queimada no dia do ataque em São Luís.
Após a operação da Tropa de Choque no Complexo Penitenciário de Pedrinhas no Maranhão, quatro ônibus foram incendiados e uma delegacia foi alvo de tiros em São Luís. Um dos ataques deixou cinco feridos; entre eles, duas crianças. A menina Ana Clara Santos Sousa, de 6 anos, morreu no Hospital Juvêncio Matos, após ter 95% do corpo queimado.
O Estado – Como você está atualmente? Pode-se dizer que você está superando a morte da sua filha?
Juliane Santos – Foi muito difícil saber que ela [Ana Clara] havia morrido. A ficha, para te falar a verdade, ainda não caiu. Penso nela a todo instante. É desumano aceitar que eu, naquele dia que estava apenas voltando para a minha casa com as minhas filhas, tenha sido vítima daquilo. O mundo está desumano. Ninguém acredita mais no valor das pessoas; só pensam o tempo todo em matar, em querer o mal alheio. Isso precisa mudar. Posso te dizer que nos últimos dias estou chorando um pouco menos a morte da Ana Clara, mas o que aconteceu comigo não desejo a ninguém. Posso te dizer ainda que a perda de Ana Clara é uma ferida em meu coração que jamais irá cicatrizar.
O Estado – Sei que é difícil te perguntar isso, mas o que você lembra do dia do incêndio ao coletivo?
Juliane – De pouca coisa. Foi tudo muito rápido. Assim que os bandidos entraram no ônibus e começaram a dizer para nós descermos, não tive outra reação a não ser sair com as minhas filhas daquele inferno. Mas não deu tempo, pois assim que estava na escada já descendo do coletivo, o fogo tomou conta de tudo. Me sinto triste pois não consegui impedir que a Ana Clara fosse atingida pelo fogo. Eu também fui incendiada. A Lorane também. Depois que eu desci do ônibus só me lembro que ao acordar no hospital perguntei por minhas filhas, para saber como elas estavam.
O Estado – Sua família, por opção e orientação médica, falou da morte da Ana Clara mais de um mês depois do ocorrido. Você sentiu mágoa por causa disso?
Juliane Santos – Claro que não, entendi a situação perfeitamente. Lógico que, quando eu perguntava pela Ana Clara, enquanto estive no hospital, tanto em São Luís quanto em Brasília, queria saber a verdade. Mas nem sei como reagiria. Essa notícia poderia realmente me abalar de tal forma que não sei até que ponto não poderia piorar.
O Estado – Você aparenta ser uma pessoa muito religiosa. Como essa fé te ajuda a superar esse momento difícil na tua vida?
Juliane Santos – A fé é tudo. Sem ela, não sei se teria chegado até aqui. Sair do hospital foi uma vitória. Ver a Lorane viva, também. Tudo na vida tem uma razão de ser. Se Deus quis que a Ana Clara não estivesse mais entre nós, então deve haver uma razão. É essa mesma fé que me leva a perdoar os homens que queimaram aquele ônibus e tiraram a Ana Clara de mim. Não vale a pena carregar mágoa em meu peito. De que adiantaria eu alimentar esse ódio todo daqueles homens se Ana Clara não vai voltar?
O Estado – Você saiu do hospital até antes do que previam os médicos. Mesmo assim, seu corpo ainda está muito afetado pelas queimaduras?
Juliane Santos – Está sim. Os próprios médicos disseram que é normal. Ainda estou com as minhas costas com feridas geradas pelas queimaduras e também com os meus braços afetados. Até para pentear o meu cabelo tenho que pedir ajuda. Mas vou melhorar, com fé em Deus.
O Estado – Você deve comparecer três vezes por semana no Hospital Regional Asa Norte, onde esteve internada para continuar com o tratamento. Que procedimento médico você está recebendo?
Juliane Santos – Eles [os médicos] verificam como estão os ferimentos e trocam os curativos. Além disso, também estou fazendo sessões de fisioterapia e me submetendo a tratamento psicológico.
O Estado – Já há uma previsão sobre quando voltará para São Luís?
Juliane Santos – Tudo vai depender do restante do tratamento. Ainda não sei quando irei voltar para São Luís.
O Estado – Até que ponto a presença da Lorane (irmã de Ana Clara) te ajudou a receber um pouco melhor a notícia da morte da Ana Clara?
Juliane Santos – Foi fundamental. Na verdade, está sendo. A Lorane é a alegria da casa onde estou hospedada (Juliane está na casa de uma tia, em Brasília). Ela é um dos presentes de Deus à minha vida. Por ela [Lorane], também que estou lutando para superar esse momento difícil.
O Estado – O que você objetiva para a tua vida daqui para frente? Mantém vivos os sonhos, as metas?
Juliane Santos – Acho que a prioridade é cuidar da Lorane. É a minha filha e que ainda depende de mim. Minha família também espera muito de mim. Sou nova, tenho apenas 22 anos de vida, e espero ainda ter muitas alegrias, apesar de que levarei a Ana Clara em meu coração até o fim dos meus dias.
Outra vítima
Márcio Ronny da Cruz Nunes, de 37 anos, também vítima dos ataques criminosos na capital maranhense, permanece em estado grave, porém apresentando melhora em seu quadro de saúde. Márcio Ronny está internado desde o dia 8 do mês passado no Hospital de Queimaduras de Goiânia, dando prosseguimento ao tratamento. Por enquanto, ainda não há previsão de alta para Márcio Ronny.